segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ipojucan


Ipojucan, um artista da bola! Jogador clássico se consagrou no Vasco da Gama

Alto, esguio e magro. E um craque acima da média. Assim era Ipojucan Lins Araújo, um verdadeiro conhecedor dos meandros de uma bola. Seus malabarismos com a canhota encantavam os admiradores do futebol bem jogado, intuído, cheio de improvisos e toques de genialidade.

Nascido em Maceió, Alagoas, no dia 3 de junho de 1926, logo cedo ele veio para o Rio de Janeiro e não demorou para ser descoberto pelos olheiros espalhados nas esquinas suburbanas.

Foi no bairro da Piedade que ele chamou a atenção de um dirigente do Ríver, que o convidou para jogar por lá. Mas ele não ficou muito tempo na equipe e logo se transferiu para o Canto do Rio. Seu destino, no entanto, tinha um endereço: o Vasco da Gama, onde se consagrou como o quarto maior artilheiro da equipe cruzmaltina, com 225 gols em 413 jogos, entre 1944 e 1954.

Muitos diziam que ele sumia durante alguns jogos. Na final do campeonato estadual de 1950, isso literalmente aconteceu e ele levou uma dura do treinador vascaíno, o falecido Flávio Costa. Em uma entrevista à Folha de S.Paulo em 1995, o ex-treinador, então com 88 anos, lembrou-se com detalhes daquele episódio que marcou a carreira do jogador.

"O Ipojucan, do nosso time, era um artista com a bola. Driblou a defesa toda do América e apenas levantou a bola para a mão do goleiro. Quis colocar e pegou mal. O Ipojucan colocou a mão na cabeça, atordoado. Estava 1 a 1 no intervalo. Saí gritando, incentivando na volta ao campo. Em meu vestiário nunca rezei Pai nosso", contou.

Em seguida, o treinador comentou sobre a indisposição de Ipojucan. "Nunca fiz promessa. Os jogadores, então, voltaram ao campo. Eu fiquei para tomar um cafezinho. Na boca do túnel do Maracanã, vi que o Ipojucan não queria voltar".

Experiente, Costa soube o que fazer. ?Mandei o Augusto, capitão do time, avisar o juiz que o Ipojucan voltaria depois. Naquele tempo se proibia substituição. Pensei que o Ipojucan quisesse vomitar, coisa assim. Mas vi que ele estava deitado no chão do vestiário. E eu, disputando o campeonato. O que o técnico poderia fazer? Dei duas bolachas nele. "O seu filho de uma...", contou.

E Ipojucan voltou na marra. "Saí atrás e ele correu pelo corredor. O corredor vai dar no campo. O Ipojucan entrou no campo. Depois, por todo o segundo tempo, ele ficou me olhando. Ipojucan deu o passe para o Ademir fazer o gol e ganhamos o campeonato", concluiu.

Consagrando Vavá - Também o craque Vavá, ex-centroavante do Vasco e bicampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 e 62, levou consigo boas recordações do companheiro, que, com seus toques leves, curtos e sutis, sempre ajudava na consagração dos craques de ataque.

Vavá, falecido em 2001, nunca se esqueceu de que foi Ipojucan quem o ajudou a se firmar no time em 1953, quando vinha das categorias de base. Na ocasião, o Vasco venceu o Bangu por 4 a 1, com um dos gols de Vavá.

"Eu era juvenil, fã daqueles jogadores. Jogar com eles foi muito importante na minha vida, para minha carreira. No gol da vitória, Ipojucan deu um passe daqueles que só ele sabia dar e me deixou na cara do gol. Mal chegou ao pé dele, a bola já estava à minha frente. Chutei no embalo e marquei. Foi um jogo duro, o Bangu tinha um bom time e valorizou ainda mais nossa vitória", recordou-se Vavá.

Depois de conquistar cinco títulos cariocas pelo Vasco, transferiu-se para a Portuguesa de Desportos, além de vestir em oito ocasiões a camisa da seleção brasileira. Gostava da noite, e isso ajudou a encurtar sua carreira de puro talento.

Ipojucan morreu em São Paulo, tuberculoso, em 19 de junho de 1978. O Brasil disputava a Copa do Mundo da Argentina e sua morte passou despercebida, enquanto o técnico Cláudio Coutinho quebrava a cabeça em busca de alternativas táticas e teóricas para colocar um time decente em campo.

Cheio de improvisações, o Brasil perdeu um pouco de sua identidade. E Ipojucan, enquanto o Brasil se enrolava na Copa, morria esquecido. Justamente ele, exemplo maior de que um simples toquinho de gênio, daqueles que, como disse Vavá, "só ele sabia dar", poderia resolver o problema do complicado time brasileiro.

Fonte: http://www.supervasco.com/

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